sábado, 22 de dezembro de 2012

Ah, diz-me a verdade acerca do amor - W.H. Auden

Ah, diz-me a verdade acerca do amor                                

Há quem diga que o amor é um rapazinho,
            E quem diga que ele é um pássaro;
Há quem diga que faz o mundo girar,
            E quem diga que é um absurdo,
E quando perguntei ao meu vizinho,
            Que tinha ar de quem sabia,
A sua mulher zangou-se mesmo muito,
            E disse que isso não servia para nada.

Será parecido com uns pijamas,
   Ou com o presunto num hotel de abstinência?
O seu odor faz lembrar o dos lamas,
   Ou tem um cheiro agradável?
É áspero ao tacto como uma sebe espinhosa
   Ou é fofo como um edredão de penas?
É cortante ou muito polido nos seus bordos?
   Ah, diz-me a verdade acerca do amor.

Os nossos livros de história fazem-lhe referências
          Em curtas notas crípticas,
É um assunto de conversa muito vulgar
          Nos transatlânticos;
Descobri que o assunto era mencionado
          Em relatos de suicidas,
E até o vi escrevinhado
          Nas costas dos guias ferroviários.

Uiva como um cão de Alsácia esfomeado,
   Ou ribomba como uma banda militar?
Poderá alguém fazer uma imitação perfeita
   Com um serrote ou um Steinway de concerto?
O seu canto é estrondoso nas festas?
   Ou gosta apenas de música clássica?
Interrompe-se quando queremos estar sossegados?
   Ah! diz-me a verdade acerca do amor.

Espreitei a casa de verão,
          E não estava lá,
Tentei o Tamisa em Maidenhead
          E o ar tonificante de Brighton,
Não sei o que cantava o melro,
          Ou o que a tulipa dizia;
Mas não estava na capoeira,
          Nem debaixo da cama.

Fará esgares extraordinários?
   Enjoa sempre num baloiço?
Passa todo o seu tempo nas corridas?
   Ou a tocar violino em pedaços de cordel?
Tem ideias próprias sobre o dinheiro?
   Pensa ser o patriotismo suficiente?
As suas histórias são vulgares mas divertidas?
   Ah, diz-me a verdade acerca do amor.

Chega sem avisar no instante
   Em que meto o dedo no nariz?
Virá bater-me à porta de manhã,
   Ou pisar-me os pés no autocarro?
Virá como uma súbita mudança de tempo?
   O seu acolhimento será rude ou delicado?
Virá alterar toda a minha vida?
  Ah, diz-me a verdade acerca do amor.

Janeiro, 1938

 
 
W.H. Auden
DIZ-ME A VERDADE ACERCA DO AMOR
Tradução de Maria de Lourdes Guimarães
Relógio d´Água
1994

Referência:
http://poesiaseprosas.no.sapo.pt/w_h_auden/poetas_whauden_ahdizme01.htm
Acesso em 22.12.12 às 10:00hs.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Olá amigo leitor,
Muito obrigada por acessar o Blog,espero que tenha te acrescentado algo de bom.
Deus te abençoe!
Obs: Ao comentar identifique-se com seu NOME!